"Se posso encontrar entre os... Fernanda Arantes Leal

"Se posso encontrar entre os mortos, um ferido,
De igual modo, um sábio entre os tolos,
Quem sabe um culto entre os incautos,
Um Humilde entre os soberbos,
Quiçá, eu possa encontrar o perfume da rosa, impermeada entre os espinhos?
Ou a doçura de um homem,
Nas seriedades de suas cicatrizes...
Ser-me-ia possível também,
Entre os obscenos, achar um de caráter renomado?
Sim... É possível.
Seja breve, ou longa busca
Não posso perder a fé em minhas demandas
A felicidade é fruto do que se espera,
E nunca o fim dessa procura.
Sempre buscamos algo que nos faça sentido
E isso, é de fato, uma eterna dança
Como a valsa da primeira debutante
O sonho de amor infinito do adolescente
Não se espera com tanta pressa, ao alcançar as asas da maturidade
Mas é sempre perto,
O que nos parece distante,
O que de longe é visto
Pelos olhos da posteridade.
Encontrar o amor perdido,
Ou embarcar no desconhecido...
Eterna paixão de quem lança o olhar sincero, puro e destemido.
Não deixei de acreditar
Desde o dia em que te vi
O dia em que te li
Em que te reconheci
Tu estavas lá
Entre a luxúria dos perdidos
Procurando me encontrar
Moço gentil e atencioso,
Lançou-me sobre seu olhar caloroso
Remeteu-me aos antigos pensamentos
Incrédulos, que deveras havia esquecido
À tona, vieram-me os mandamentos
De tudo o que havia aprendido
Tu não roubaste meu coração
Tão somente, porque eu o trouxe para te dar
E não és o contemplado
Somos nós, afortunados, com direito a amar
Tê-lo-ei em meu peito e nas lembranças
Mesmo que de remoto possas pensar
Está entre os poucos que aqui guardei
Sem pressa pra arrancar
Sim... Dou-te minha graça
Mesmo que sem graça possas ficar
Na madrugada, que te vi passar...”