Carta sobre a Felicidade
Quando se está só por muito tempo, é perigoso demais buscar companhia sem entender o que se deseja, é como enfiar seu braço numa caixa cheia de serpentes esperando tirar de lá felicidade. Não adianta, o veneno da solidão corrompe seu ego se você não amar a si mesmo. E outra, é inviável estar com alguém somente por estar, a confiança torna-se uma droga alucinógena.
Esse é o meu mundo, me mostrando que existem sonhos longe daqui. E veja bem, tudo que eu passei foi um ontem, um passado, um dia que pode até não ter chego ao seu fim, mas que me abriu os olhos. Humanos indecisos. Seres sarcásticos que vão e voltam achando que somos os mesmos, procurando em quantos cacos ainda nos cortamos. Mas eu te digo, não somos. Queremos coisas melhores, dias melhores, amores melhores. Sofremos como um enjoo devido à orientação do juízo. E que juízo, pensamentos nostálgicos, solidão, noites sem dormir, pessoas que não se tocam sobre o quanto eram importantes em nossas vidas e que agora, não passam de um fundo de gaveta. Quero demolir as rejeições, anestesiar o tempo, ver com quantas mágoas se cria um caminho de decepção. É uma vontade de se jogar no vento e ver se esse vazio vai embora. Mas não é eu, é alguém, e acho bom saber voar. Era um ciúme, um pequeno egoísmo, um medo bobo de te perder que se transformou em indiferença. É árduo refazer pontes, é cansativo. Percebemos que não é amor quando isso não esquenta mais o peito, mas queima num sentimento de querer abandonar tudo. É uma dor, é uma fase chata, é uma vontade de sair do próprio corpo e encarnar algo sem vida. Não é drama, não é frescura, é realidade, é um pedido de esquecimento. Pessoas que escolhem umas as outras não merecem confiança, muito menos companhia. É querer nada mais, é sumir do mapa, é um adeus. As pessoas só nos procuram quando sabem onde nos encontrar.
Foi muito bonito ver você sorrindo, sou apaixonado por isso. É imaginação, é real, é ilusório, é sentimento. É tudo que acontece de verdade sem ninguém para dizer o contrário. Sorrisos são como torres que me protegem dos destroços de mais um dia inútil. É, não posso negar, não mesmo. Um até mais foi a coisa mais gentil desde que seus olhos se perderam nos meus.
Não dá para saber se o mundo é um réquiem ou uma parte do inferno. Nós temos lugares agradáveis, mas nem sempre possuímos ótimos amigos. Como saber se às vezes não somos apenas um tijolo no muro sustentando um ego vazio? Por trás do sorriso das pessoas, sempre existe algo frio que não condiz com aquilo que pensam sobre nós. Sempre há alguém pintando uma parede com todo o ódio possível, nunca se achando bom o suficiente para continuar. Sempre existe alguém se remoendo no chapisco de um muro, procurando vida entre os cacos que cortaram durante um dia inteiro. Sempre há alguém procurando uma pessoa perfeita, encontrando-se numa milha milagrosa de ilusão. O chão do seu quarto torna-se um abismo, transgredindo sua falta de vida e a atenção que ninguém soube te dar. Atenção que não se implora, mas que se abre no peito igual uma ferida acesa pelo tempo. Todos nós queremos ser algo para alguém, sem sequer dizer ou demonstrar isso. E depois de tanto suportar, mudar, chorar, rir, gritar ou sufocar, você entende que precisa se amar enquanto é possível. Entende que falar sobre desconfianças gera apenas mais dúvidas e que não se apegar é a melhor forma de sobreviver. Tudo que é demais pesa e agir de menos não leva a lugar nenhum. Quando tudo passa, percebemos que era inútil se preocupar tanto por algo banal. Afinal, você estava chegando ao fundo do poço sem saber que sempre existe mais um palmo para se afundar.
O tempo passa e as lembranças ficam. Muita coisa que deveria ter virado pó, mas que insiste em arrancar alguns sorrisos amanhã será apenas um motivo para seguir em frente, assim como toda tristeza será um porto seguro para se atracar. Perdoar e ser perdoado é árduo, mas não impossível. Só o simples fato de recostar a cabeça no travesseiro deveria trazer alguém de volta, mas não traz. É assim mesmo! Não adianta gritar para a saudade, ela é um silêncio que se desperta com o primeiro bocejo de bom dia.
É assim que me sinto. Depois de pensar que as pessoas estariam te abraçando, elas estavam lá numa festa, rindo, te abandonando. Ou sei lá, homens, mulheres, quantas vezes dizem que amam você e mais 10 pessoas junto? Eu não sei. As pessoas que enchem tua paciência porque você sequer diz bom dia são as mesmas que se esqueciam de dizer boa noite lá atrás. Esse amor que não dá pra suportar, tão falso que uma solidão junta do chão do quarto é a melhor coisa a se fazer.
Acontece esse mal, essa tristeza, esse desânimo de carregar os cacos pra ver se mudamos algo. E sempre mudamos, mudamos ao olhar a chuva cair na janela, ao caminhar, ao pensar que somos os mesmos, ao sorrir com a chegada de um novo alguém. Sempre faremos esse papel de trouxa, mas de vez em quando dá vontade de dobrar ele, guardar no bolso e ir atrás de abraços como o seu. Eu sei que sou idiota também, eu sei, eu preciso de algo pra me sentir assim.
Às vezes me lembro de quem partiu. Um, dois. Silenciosos, sem dizer adeus algum. Essa era a triste verdade, todos viraram pó na memória. Mas por fim, eu não saberia dizer se eles me procuraram, sentiram minha falta ou fingiram não precisar. Essas três verdades absolutas não explicavam grandes coisas. Aliás, não explicavam absolutamente nada. E eu? Eu tentando entender de tudo, sabendo de menos.
E então, já havia acontecido tanta coisa. Caído no fundo do poço, discutido com o vento, retornado do além do tempo, aberto um frasco de saudade, chorado para não se afogar. Tudo isso, coisas que de fato pareciam ser o ideal ou os ideais. Não havia muito mais a se fazer. Era uma guerra contra você, e no meio de um tiroteio a única alternativa era sair com os braços para cima, correndo para ser destrinchado ao seu lado.
Estou recluso, distante de pessoas e com poucas coisas. Sei bem o valor que os mais próximos possuem. Apenas me completam, animam e me fazem prosseguir. O caminho é meu, mas as marcas trilhadas não pertencem somente a mim. Confesso que enquanto admiro alguns de coração, gostaria de sair por ai despedaçando outros ou sei lá, mostrar para cada imbecil o quanto valemos à pena e que pessoas são únicas. Mas infelizmente, apenas existimos enquanto alguém precisa de nós.
A folha de papel insistia em ficar vazia, não existiam palavras para descrever o irretratável. Pior era com a vida, tudo fragmentado, indeciso, um novo dia que precisava ser consolado ou sentido. Era quase uma certeza, procurar por alguém, entender por alguém. Mas não era o suficiente, o mosaico era eu e as cinco mil peças de dúvidas eram minhas. Queria que estivesse aqui, mesmo não estando. E isso nem é algo tão bom assim. Vivo do indizível, do inimaginável, insistindo em bater na mesma porta que não se abre nunca.
Gosto de olhar as coisas com cautela, por mais que as dúvidas pareçam sufocar. É extraordinário isso, o completo nunca é por si só aquilo que esperamos. Todos os julgamentos caem diante do desespero de um eco silencioso, cuja autoestima é como um coma. Minhas emoções são semelhantes à um cubo mágico e somente quem é sóbrio o suficiente entende que as peças não se encaixam, mas faltam cores numa escala cinza e branca irretratável. Tenho medo de mim, que o amor não esteja à quilômetros de distância, mas à quilômetros do meu peito. É assim mesmo, quanto mais o tempo passa, mais os defeitos se tornam uma estupidez e as expectativas criam um câncer difícil de ser curado.
Não despeje dor em quem não se importa, por mais que isso pareça inexplicável. Todos carregam essas poças de medo onde pisam e acabam afundando na própria desgraça. Seus bons olhos podem compartilhar a felicidade, mas por que não devem compartilhar a tristeza? Cuidado ao se afogar sozinho, tudo que é guardado para si apodrece com o tempo. Explique-se com calma, sem chutes nem socos. É inegável que certas coisas doem pra caramba, mas sempre existe alguém disposto a desatar parte dos nós existenciais, jogando os cacos de agonia cortantes na lixeira.
A triste verdade é que todo mundo é egoísta, por mais insensato que isso pareça, as pessoas são egocêntricas. Geralmente por desejar bem-estar ou prazer, às vezes apenas para conservar a sua existência. É um fato e por mais que alguém negue, lá no fundo do poço existe um narcisista desesperado querendo salvar a si mesmo. Mas é aí que muitos se enganam, sabe por quê? As fichas sempre caem e nem tudo é movido por algo banal. Eu mesmo já optei por conhecer as cartas do jogo sem ninguém suspeitar. Pelo menos uma vez na vida o egoísmo é aquilo que move o ser humano até determinado objetivo, aceite esse fato. É inegável. A maioria pode até entrar em colapso, ficar de mau humor, possuir ódio e ira ao compreender o inevitável, mas a triste realidade é que todos nós estamos doentes e aprisionados na mesma quarentena.
Somente quem se decepcionou sabe que a verdade não é apenas um drama, mas um tiro de calibre .12 que atravessou o peito deixando marcas irreversíveis. Pior ainda é quando a pessoa procura diante da vida os estilhaços de ilusão. Lá contém todo tipo de porcaria: solidão, autoestima baixa, angústia e negação. E é a partir desses cacos que ela tenta encaixar os pedaços e regenerar o que sobrou.
Amanhã é um novo dia, e eu gostaria de congelar o tempo, inexistir por um pequeno momento. Não exatamente deixar de viver, mas mudar a rotina e sair das regras entediantes. Que aquilo que se ama pudesse ser feito em vez das obrigações, sem a necessidade de sofrer tanto por algo. E tudo bem, eu gostaria de alguém ao meu lado. Sinto-me vazio nessa questão de amar, sem dar nada de mim mesmo. Queria você aqui me abraçando, com o calor do corpo de fato. Esta noite, eu prefiro que as palavras saiam da sua boca e não de um livro sussurrando na minha mente.
Falar é fácil, difícil é ouvir. Somente quem se sente aprisionado sabe que a vitalidade se despedaça igual uma peça de porcelana. A solidão, a futilidade, o fracasso, o anonimato, é tão, tão grande que chega a ser insuportável. Vivemos numa caixa de vidro mental e física. Um sistema com permissões, normas e aceitação que molda tudo aquilo que não é dito e que caso se rebele, se torna apenas outra estatística num mundo que não irá parar para consertar o seu coração. Ao ler estas linhas, qual o tamanho da sua jaula? Cinquenta metros, cinquenta quilômetros, alguns centímetros? A limitação da sua mente? É isso? Uma caixa de Pandora que liberta de tudo, medos, tristeza, guerras, desprezo, menos a capacidade de ouvir. Cuidado com isso, ainda faltam alguns itens para saírem da imaginação. O que acontece quando você abre essa caixa e a esperança não está mais lá? Oras meu caro, a resposta é simples, a vida termina e não existe uma passagem de volta. É uma longa viagem num campo minado onde você caminha tentando sobreviver, ou melhor, apenas existir. Pontes deveriam ser uma bela travessia para admirar a paisagem, não um cemitério. Imagino a quantidade de pessoas que se sentem atordoadas, vazias, levando porradas da vida diariamente e aguentando para prosseguir até a luz do fim do túnel, uma luz que na verdade está apagada há muito tempo por falta de manutenção: aquele cuidado com o tesouro mais precioso que alguém poderia possuir.
Nada neste mundo é permanente. As pessoas se vão, as verdades mentem, o café esfria e os pensamentos mudam. Somente quem joga pilhas de rosas aos próprios pés conhece a realidade sufocante de tentar renascer sem estar morto. Em algum momento, começamos a limpar a consciência e tentamos enterrar o remorso. Se for preciso, eu acendo um fósforo e queimo minhas memórias à base de gasolina. Se for preciso, eu faço de tudo pra me livrar da tristeza de lembrar de alguém. Se for preciso, eu liberto meus amores da forma mais banal possível. Simples assim. Só por paz, só por liberdade.
Aos poucos o tempo vai acalmando as tempestades e curando as cicatrizes, deixando para lá quem não te acrescenta nada mais. Com o passar dos anos a noite se torna o novo dia e você aprende que a existência não se mede em relógios, mas com quanta coragem fomos capazes de entregar nossa vida a alguém. Amor é assim, você entrega seu coração, seu ombro amigo e alguns abraços em troca de algo, mas algo que nem mesmo os julgamentos e as expectativas poderiam prever. E aí meu amigo, você chegou num beco quase sem saída. Aquilo que parecia ser eterno não dura e quem parecia ser o nosso mundo se torna um fim de nada. Aprenda a deixar ir, não precisa esquecer, apenas saiba que quando decidem nos amar, talvez seja tarde demais. Quando precisam de nós, talvez não estejamos disponíveis para se doar. Quando resolvem nos entender, talvez não existam motivos para continuar. E desta forma, a vida mostra seu jeito estranho de ser, provando que quando falam com nós, talvez não sejamos capazes de ouvir. É aquela velha história onde aqui se faz e aqui se paga, e que nenhum piscar de olhos devolve um sorriso que se transformou numa decepção.
Um dia além do dia, você entende que as pessoas conquistadas valem mais do que todos os bens perdidos e que mudanças são inevitáveis quando descobrimos que a vida exige coragem. Estar só não significa não amar a si mesmo, pois a solidão monótona não cabe numa única palavra. Um dia você entende que pode chover mais dentro de si do que numa tempestade lá fora e que não importa com quantas lágrimas você foi capaz de se reerguer, mas com quantas decepções você aprendeu a cair. Com o passar dos anos o seu corpo torna-se um refúgio e você descobre que as pessoas não são a sua pele, mas a cegueira da ignorância. Ame o que você possui nas piores situações, isso lhe ensinará sobre algo que o mundo nunca poderá lhe tirar, a sua esperança. Creia em algo, mesmo que seja em alguém, na arte, na escrita, na dança ou na vida. Nada vem de graça e o preço pode ser alto demais. Esteja disposto a pagar caro pelas pessoas que você possui. Companhia, amor e lealdade não se encontram na lata de lixo da próxima esquina da vida. Geralmente alguém tenta apanhá-las para ficar na melhor, quando na verdade o melhor é disputado e alguém sai ferido. Tiros de sinceridade não são para qualquer um. A munição é rara e os apoios pra lá de escassos. Amizades verdadeiras não crescem a longas distâncias, mas florescem dentro do peito e aguardam até a próxima primavera voltar. E de estação em estação, tudo termina, até que o tempo que lhe foi dado vire pó num adeus eterno.