Biografia de Antero de Quental

Antero de Quental

Antero de Quental nasceu em Ponta Delgada, nos Açores, Portugal, no dia 18 de abril de 1842. Cursou Direito na Universidade de Coimbra. Desde essa época já revelava um espírito político, um temperamento irrequieto e atitudes combativas.

A produção poética de Antero de Quental apresenta três fases: em “Odes Modernas” (1865), seus primeiros versos, mostra seu ideal revolucionário. Em “Primaveras Românticas” (1875) e “Raios de Extinta Luz” (1892), observa-se um poeta romântico, sentimental. Em “Sonetos Completos” (1886), sua poesia torna-se filosófica, dividida entre as concepções religiosas e metafísicas, voltadas para a contemplação e solução de seu dilema interno, compondo seus melhores sonetos, que se tornam célebres em toda a literatura portuguesa.

Quental foi líder da Questão Coimbrã e das Conferências Democráticas. Além de sua produção poética, escreveu artigos para os jornais republicanos e propagandas para organizações operárias. Candidatou-se duas vezes a deputado. Em 1890, filia-se à “Liga Patriótica do Norte”, mas não obtém êxito. De volta à terra natal, cercado de problemas existenciais, Antero de Quental suicida-se com dois tiros, no dia 11 de setembro de 1891.

O programa da conferência dizia, entre outras coisas, da preocupação com a transformação social, moral e política dos povos, da necessidade de ligar Portugal com os movimentos modernos de agitar na opinião pública as grandes questões da filosofia e da ciência e realizar transformações na política, economia e religião da sociedade portuguesa. Depois da quinta conferência, por decreto real, o cassino foi fechado.

Antero de Quental expressa em seus sonetos a sua inquietação religiosa e metafísica constituindo a parte mais importante de sua obra: "Sonetos de Antero" (1861), "Primaveras Românticas" (1872), "Sonetos Completos" (1886) e "Raios de Extinta Luz" (1892). É considerado, ao lado de Bocage e Camões, os grandes sonetistas da literatura portuguesa.

Antero Tarquínio de Quental sofrendo de depressão, se suicida no dia 11 de setembro de 1891, em Ponta Delgada, sua terra natal.

Acervo: 34 frases e pensamentos de Antero de Quental.

Frases e Pensamentos de Antero de Quental

Nirvana

Viver assim: sem ciúmes, sem saudades,
Sem amor, sem anseios, sem carinhos,
Livre de angústias e felicidades,
Deixando pelo chão rosas e espinhos;

Poder viver em todas as idades;
Poder andar por todos os caminhos;
Indiferente ao bem e às falsidades,
Confundindo chacais e passarinhos;

Passear pela terra, e achar tristonho
Tudo que em torno se vê, nela espalhado;
A vida olhar como através de um sonho;

Chegar onde eu cheguei, subir à altura
Onde agora me encontro - é ter chegado
Aos extremos da Paz e da Ventura!

Mãe

Mãe - que adormente este viver dorido,
E me vele esta noite de tal frio,
E com as mãos piedosas até o fio
Do meu pobre existir, meio partido...

Que me leve consigo, adormecido,
Ao passar pelo sítio mais sombrio...
Me banhe e lave a alma lá no rio
Da clara luz do seu olhar querido...

Eu dava o meu orgulho de homem - dava
Minha estéril ciência, sem receio,
E em débil criancinha me tornava,

Descuidada, feliz, dócil também,
Se eu pudesse dormir sobre o teu seio,
Se tu fosses, querida, a minha mãe!

Divina Comédia


Erguendo os braços para o céu distante
E apostrofando os deuses invisíveis,
Os homens clamam: — «Deuses impassíveis,
A quem serve o destino triunfante,

Porque é que nos criastes?! Incessante
Corre o tempo e só gera, inestinguíveis,
Dor, pecado, ilusão, lutas horríveis,
N'um turbilhão cruel e delirante...

Pois não era melhor na paz clemente
Do nada e do que ainda não existe,
Ter ficado a dormir eternamente?

Porque é que para a dor nos evocastes?»
Mas os deuses, com voz inda mais triste,
Dizem: — «Homens! por que é que nos criastes?»

Oceano Nox

Junto do mar, que erguia gravemente
A trágica voz rouca, enquanto o vento
Passava como o vôo do pensamento
Que busca e hesita, inquieto e intermitente,

Junto do mar sentei-me tristemente,
Olhando o céu pesado e nevoento,
E interroguei, cismando, esse lamento
Que saía das coisas, vagamente...

Que inquieto desejo vos tortura,
Seres elementares, força obscura?
Em volta de que idéia gravitais?

Mas na imensa extensão, onde se esconde
O Inconsciente imortal, só me responde
Um bramido, um queixume, e nada mais...

Contemplação

Sonho de olhos abertos, caminhando
Não entre as formas já e as aparências,
Mas vendo a face imóvel das essências,
Entre ideias e espíritos pairando...

Que é o Mundo ante mim? fumo ondeando,
Visões sem ser, fragmentos de existências...
Uma névoa de enganos e impotências
Sobre vácuo insondável rastejando...

E dentre a névoa e a sombra universais
Só me chega um murmúrio, feito de ais...
É a queixa, o profundíssimo gemido

Das coisas, que procuram cegamente
Na sua noite e dolorosamente
Outra luz, outro fim só pressentindo...