Pablo Neruda sobre Amor

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Amo-te como a planta que não floriu e tem
dentro de si, escondida, a luz das flores,
e, graças ao teu amor, vive obscuro em meu corpo
o denso aroma que subiu da terra.

Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde,
amo-te diretamente sem problemas nem orgulho:
amo-te assim porque não sei amar de outra maneira,

a não ser deste modo em que nem eu sou nem tu és,
tão perto que a tua mão no meu peito é minha,
tão perto que os teus olhos se fecham com meu sono.

Pablo Neruda
NERUDA, P. Cem Sonetos de Amor. Porto: Campos das Letras, 2004.

Nota: Trecho do Soneto XVII

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Gosto quando te calas

Gosto quando te calas porque estás como ausente,
e me ouves de longe, minha voz não te toca.
Parece que os olhos tivessem de ti voado
e parece que um beijo te fechara a boca.

Como todas as coisas estão cheias da minha alma
emerge das coisas, cheia da minha alma.
Borboleta de sonho, pareces com minha alma,
e te pareces com a palavra melancolia.

Gosto de ti quando calas e estás como distante.
E estás como que te queixando, borboleta em arrulho.
E me ouves de longe, e a minha voz não te alcança:
Deixa-me que me cale com o silêncio teu.

Deixa-me que te fale também com o teu silêncio
claro como uma lâmpada, simples como um anel.
És como a noite, calada e constelada.
Teu silêncio é de estrela, tão longinqüo e singelo.

Gosto de ti quando calas porque estás como ausente.
Distante e dolorosa como se tivesses morrido.
Uma palavra então, um sorriso bastam.
E eu estou alegre, alegre de que não seja verdade.

Pablo Neruda

Nota: Tradução de poema de Pablo Neruda

Plena mulher, maçã carnal, lua quente,
espesso aroma de algas, lodo e luz pisados,
que obscura claridade se abre entre tuas colunas?
que antiga noite o homem toca com seus sentidos?

Ai, amar é uma viagem com água e com estrelas,
com ar opresso e bruscas tempestades de farinha:
amar é um combate de relâmpagos e dois corpos
por um só mel derrotados.

Beijo a beijo percorro teu pequeno infinito,
tuas margens, teus rios, teus povoados pequenos,
e o fogo genital transformado em delícia

corre pelos tênues caminhos do sangue
até precipitar-se como um cravo noturno,
até ser e não ser senão na sombra de um raio.

Pablo Neruda
Cem sonetos de amor

Te amo, beijo em tua boca a alegria.

Pablo Neruda
Cem sonetos de amor

Nota: Trecho de "Soneto LXXVIII"

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Quero que saibas uma coisa.

Tu sabes como é:
se olho a lua de cristal, os galhos vermelhos do outono em minha janela,
se toco junto ao fogo as impalpáveis cinzas
no corpo retorcido da lenha,
tudo me leva a ti,
como se tudo o que existe:
aromas, luz, metais,
fossem pequenos barcos que navegam em direção às ilhas tuas que esperam por mim.

Agora, bem,
se pouco a pouco tu deixares de me querer
pararei de te querer
pouco a pouco.

Se de repente me esqueceres
não me procure,
pois já terei te esquecido.

Se consideras violento e louco o vento das bandeiras que passa por minha vida
e decidires me deixar às margens do coração no qual tenho raízes,
lembra-te
que nesta dia,
a esta hora
levantarei os braços e minhas raízes partirão em busca de outra terra.

Mas
se em cada dia,
cada hora,
sentires que a mim estás destinado com implacável doçura,
se em cada dia levantares uma flor em teus lábios para me buscares,
oh meu amor, oh minha vida,
em mim todo esse fogo se reacenderá,
em mim nada se apaga ou se esquece,
meu amor se nutre do seu, amado,
e enquanto viveres
estará em teus braços
sem deixar os meus.

Pablo Neruda
Os versos do capitão

Quando tuas mãos saem,
amada, para as minhas,
o que me trazem voando?
Por que se detiveram
em minha boca, súbitas,
e por que as reconheço
como se outrora então
as tivesse tocado,
como se antes de ser
houvessem percorrido
minha fronte e a cintura?

Sua maciez chegava
voando por sobre o tempo,
sobre o mar, sobre o fumo,
e sobre a primavera ,
e quando colocaste
tuas mãos em meu peito,
reconheci essas asas
de paloma dourada,
reconheci essa argila
e a cor suave do trigo.

A minha vida toda
eu andei procurando-as.
Subi muitas escadas,
cruzei os recifes,
os trens me transportaram,
as águas me trouxeram,
e na pele das uvas
achei que te tocava.
De repente a madeira
me trouxe o teu contacto,
a amêndoa me anunciava
suavidades secretas,
até que as tuas mãos
envolveram meu peito
e ali como duas asas
repousaram da viagem.

Pablo Neruda
Os versos do Capitão

Para que nada nos separe, que nada nos una.

Pablo Neruda

Nota: Adaptação de trecho do poema "Farewell" de Pablo Neruda

Depois de tudo te amarei
como se fosse sempre antes
como se de tanto esperar
sem que te visse nem chegasses
estivesses eternamente
respirando perto de mim.

Perto de mim com teus hábitos,
teu colorido e tua guitarra
como estão juntos os países
nas lições escolares
e duas comarcas se confundem
e há um rio perto de um rio
e crescem juntos dois vulcões.

Perto de ti é perto de mim
e longe de tudo é tua ausência
e é cor de argila a lua
na noite do terremoto
quando no terror da terra
juntam-se todas as raízes
e ouve-se soar o silêncio
com a música do espanto.
O medo é também um caminho.
E entre suas pedras pavorosas
pode marchar com quatro pés
e quatro lábios, a ternura.
Porque sem sair do presente
que é um anel delicado
tocamos a areia de ontem
e no mar ensina o amor
um arrebatamento repetido.

Pablo Neruda
O Coração Amarelo

Nota: Poema "Integrações"

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Dá-me amor, me sorri
e me ajuda a ser bom.
Não te firas em mim, seria inútil;
Não me firas a mim porque te feres.

Pablo Neruda

Nota: Trecho do poema "O Poço" de Pablo Neruda

Não estejas longe de mim um só dia, porque como,
porque, não sei dizê-lo, é comprido o dia,
e te estarei esperando como nas estações
quando em alguma parte dormitaram os trens.

Não te vás por uma hora porque então
nessa hora se juntam as gotas do desvelo
e talvez toda a fumaça que anda buscando casa venha matar ainda meu coração perdido

Ai que não se quebrante tua silhueta na areia,
ai que não voem tuas pálpebras na ausência:
não te vás por um minuto, bem-amada,

porque nesse minuto terás ido tão longe
que eu cruzarei toda a terra perguntando
se voltarás ou se me deixarás morrendo

É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.

Pablo Neruda

Nota: Trecho do "Poema 20" de Pablo Neruda

AMOR, quantos caminhos até chegar a um beijo,
que solidão errante até tua companhia!

Pablo Neruda
NERUDA, P. Cem Sonetos de Amor. Porto Alegre: L&PM, 2006.

Nota: Trecho do Poema II

...Mais

Se sou amado, quanto mais amado mais correspondo ao amor.

Soneto XXII

Quantas vezes, amor, te amei sem ver-te e talvez
sem lembrança,
sem reconhecer teu olhar, sem fitar-te, centaura,
em regiões contrárias, num meio-dia queimante:
era só o aroma dos cereais que amo.

Talvez te vi, te supus ao passar levantando uma taça
em Angola, à luz da lua de junho,
ou eras tu a cintura daquela guitarra
que toquei nas trevas e ressoou como o mar desmedido.

Te amei sem que eu o soubesse, e busquei tua memória.
Nas casas vazias entrei com lanterna a roubar teu retrato.
Mas eu já não sabia como eras. De repente

enquanto ias comigo te toquei e se deteve minha vida:
diante de meus olhos estavas, regendo-me, e reinas.
Como fogueira nos bosques o fogo é teu reino.

Áspero amor, violeta coroada de espinhos,
cipoal entre tantas paixões eriçado,
lança das dores, corola da cólera,
por que caminhos e como te dirigiste a minha alma?

Por que precipitaste teu fogo doloroso,
de repente, entre as folhas frias de meu caminho?
Quem te ensinou os passos que até mim te levaram?
Que flor, que pedra, que fumaça mostraram minha morada?

O certo é que tremeu a noite pavorosa,
a aurora encheu todas as taças com seu vinho
e o sol estabeleceu sua presença celeste,

enquanto o cruel amor sem trégua me cercava,
até que lacerando-me com espadas e espinhos
abriu no coração um caminho queimante.

Pablo Neruda
NERUDA, P. Cem Sonetos de Amor. Porto Alegre: L&PM, 2006.

Não...
Depois de te amar,
Eu não podria amar mais ninguém.
De que me importa se as ruas esntão cheia de homens,
esbanjando beleza e promessas ao alcance das mão.
Se tu já não me queres,
é funda e sem remédio a minha solidão.
Era tão fácil ser feliz quando estavas comigo.
Quantas vezes ouvi teu riso, rindo feliz
Como um guizo em tua boca.
E a todo momento sem te beijar, eu estava te beijando;
Com as mãos, com os olhos, com o pensamento
numa ansiedade louca.

POR QUE TE AMO

Te amo
te amo de uma maneira inexplicável
de uma forma inconfessável
de um modo contraditório
Te amo
Te amo, com meus estados de ânimo que são muitos
e mudar de humor continuadamente
pelo que você já sabe

o tempo
a vida
a morte

Te amo
Te amo, com o mundo que não entendo
com as pessoas que não compreendem
com a ambivalência de minha alma
com a incoerência dos meus atos
com a fatalidade do destino
com a conspiração do desejo
com a ambiguidade dos fatos
ainda quando digo que não te amo, te amo
até quando te engano, não te engano
no fundo levo a cabo um plano
para amar-te melhor.

Te amo
Te amo, sem refletir, inconscientemente
irresponsavelmente, espontaneamente
involuntariamente, por instinto
por impulso, irracionalmente
de fato não tenho argumentos lógicos
nem sequer improvisados
para fundamentar este amor que sinto por ti
que surgiu misteriosamente do nada
que não resolveu magicamente nada
e que milagrosamente, pouco a pouco, com pouco e nada,
melhorou o pior de mim

Te amo
Te amo com um corpo que não pensa
com um coração que não raciocina
com uma cabeça que não coordena

Te amo
Te amo incompreensivelmente
sem perguntar-me porque te amo
sem importar-me porque te amo
sem questionar-me porque te amo

Te amo
simplesmente porque te amo
eu mesmo não sei por que te amo

Pablo Neruda

Nota: O poema costuma ser atribuído a Pablo Neruda e a Gian Franco Pagliaro, mas não há fontes que confirmem essas autorias.

...Mais

Eu sei que você está aí
Pensando em mim
Se importando comigo,
Fazendo me sentir segura
E todos os meus medos,
todo o meu passado é lavado
e só resta esperança em seu abraço.

Você me faz agradecer a Deus por cada erro que eu cometi
porque cada um deles me levou
ao caminho que me trouxe até você.
Quando finalmente nos encontrarmos
eu quero que você me abrace.

Abrace-me a noite toda,
pegue no meu cabelo,
diga-me que sou uma mulher
e mostre-me que você é um homem
até existir o agora.
Eu, você e o agora.

Não peço pelas explicações da noite,
Eu espero por isso,
e que isso envolva a mim,
a você,
a luz,
e as sombras…

Se sou esquecido,
devo esquecer também.
Pois o amor é como um espelho:
tem que ter reflexo.

Pablo Neruda

Nota: Autoria não confirmada.

La pregunta

Amor, una pregunta
te ha destrozado.

Yo he regresado a ti
desde la incertidumbre con espinas.

Te quiero recta como
la espada o el camino.

Pero te empeñas
en guardar un recodo
de sombra que no quiero.

Amor mío,
compréndeme,
te quiero toda,
de ojos a pies, a uñas,
por dentro,
toda la claridad, la que guardabas.

Soy yo, amor mío,
quien golpea tu puerta.
No es el fantasma, no es
el que antes se detuvo
en tu ventana.
Yo echo la puerta abajo:
yo entro en toda tu vida:
vengo a vivir en tu alma:
tú no puedes conmigo.

Tienes que abrir puerta a puerta,
tienes que obedecerme,
tienes que abrir los ojos
para que busque en ellos,
tienes que ver cómo ando
con pasos pesados
por todos los caminos
que, ciegos, me esperaban.

No me temas,
soy tuyo,
pero
no soy el pasajero ni el mendigo,
soy tu dueño,
el que tú esperabas,
y ahora entro
en tu vida,
para no salir más,
amor, amor, amor,
para quedarme.

Pablo Neruda
Los versos del Capitan