Poemas de Gabriel García Marquez

Cerca de 51 poemas de Gabriel García Marquez

Deteve-se numa adolescência magnífica, cada vez mais impermeável aos formalismos, mais indiferente à malícia e à desconfiança, feliz num mundo próprio de realidades simples. Não percebia por que razão as mulheres complicavam a vida com corpetes e saiotes, de modo que coseu um balandrau de canhamaço que enfiava simplesmente pela cabeça e resolvia sem mais delongas o problema de se vestir, sem lhe tirar a impressão de estar nua, que era na sua maneira de ver as coisas, a única forma decente de estar em casa. Aborreceram-na tanto para que cortasse o cabelo e para que fizesse carrapitos com travessas e tranças com laços coloridos, que muito simplesmente rapou a cabeça e fez perucas para santos. O que era espantoso no seu instinto simplificador era que quanto mais se desembaraçava da moda em busca da comodidade, quanto mais passava por cima dos convencionalismos obedecendo à espontaneidade, mais perturbadora se tornava a sua beleza incrível e mais provocador o seu comportamento com os homens.

Andava à deriva, sem afetos, sem ambições, como uma estrela errante no sistema planetário de Úrsula.

Gabriel García Márquez
Cem Anos de Solidão

Na hora, pensei que um dos encantos da velhice são as provocações que as amigas jovens se permitem, achando que a gente está fora do jogo.

A ética deve acompanhar sempre o jornalismo, como o zumbido acompanha o besouro.

Foi algo novo para mim. Ignorava as manhãs da sedução e sempre tinha escolhido ao acaso as noivas de uma noite, mais pelo preço que pelos encantos, e fazíamos amores sem amor, meio vestidos na maior parte das vezes e sempre na escuridão para imaginar-nos melhores. Naquela noite, descobri o prazer inverossímil de contemplar sem as angústias do desejo e os estorvos do pudor, o corpo de uma mulher adormecida.

Gabriel García Márquez
Memórias de Minhas Putas Tristes

Não tinha um instante de sossego, mal conseguia comer e perdi tanto peso que as calças não paravam na cintura. As dores erráticas estacionaram nos meus ossos, mudava de ânimo sem razão, passava as noites num estado de deslumbramento que não me permitia ler nem escutar música, e em compensação passava o dia dando cabeçadas por causa da sonolência sonsa que não me servia para dormir.

Gabriel García Márquez
Memórias de Minhas Putas Tristes

Mas se alguma coisa haviam aprendido juntos era que a sabedoria nos chega quando já não serve para nada.

Gabriel García Márquez
O Amor nos Tempos de Cólera

Sem propor a si mesmo, sem nem saber, demonstrou com sua vida a razão que tinha o pai, que repetiu até o último suspiro que não havia ninguém com mais sentido prático, nem pedreiros mais obstinados nem gerentes mais lúcidos e perigosos do que os poetas.

Gabriel García Márquez
O Amor nos Tempos de Cólera

Também a moral é uma questão de tempo, dizia com um sorriso maligno, você vai ver.

Gabriel García Márquez
Memórias de Minhas Putas Tristes

O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de nome e para mencioná-las se precisava de apontar com o dedo.

Gabriel García Márquez
Cem Anos de Solidão

Observe-o, não o acostume ao senhor, mas, ao contrário, o senhor que se acostume a ele, e deixe-o em paz, até ganhar sua confiança.